terça-feira, 22 de março de 2011

O Novo Testamento é um livro judaico.

O Novo Testamento é um livro judaico. Entretanto, chegou o tempo de restaurar a judaicidade do Novo Testamento. Pois o Novo Testamento é de fato um livro judaico – escrito por judeus, que trata majoritariamente de judeus e que tem por público-alvo judeus e não-judeus. É correto adaptar um livro judeu para a melhor apreciação dos não-judeus, mas não ao preço de suprimir sua judaicidade intríseca. O Novo Testamento Judaico evidencia suas características judaicas já no título, da mesma forma que o nome "Judeus por Jesus" une duas idéias consideradas incompatíveis e completamente dissociadas por algumas pessoas. Entretanto, essa separação não pode existir. A figura central do Novo Testamento, Yeshua, o Messias, era um judeu nascido de judeus em Beit-Lechem, cresceu entre os judeus em Natzeret, ministrou aos judeus na Galil, morreu e ressuscitou na capital judia, Yerushalayim – tudo isso em Eretz-Yisra’el, a terra dada por Deus ao povo judeu. Além disso, Yeshua ainda é judeu, porque ainda está vivo, e em nenhum lugar a Escritura afirma ou sugere que ele tenha cessado de ser judeu. Seus 12 seguidores mais íntimos eram judeus. Durante anos, todos os seus talmidim eram judeus, alcançando o número de "dezenas de milhares" só em Yerushalayim. O Novo Testamento foi escrito inteiramente por judeus (Lucas era, ao que tudo indica, um prosélito do judaísmo); e sua mensagem é dirigida "especialmente ao judeu, mas também ao não-judeu". Os judeus levaram o evangelho aos não-judeus, e não o inverso. Sha’ul, o principal emissário aos não-judeus, foi durante toda a sua vida um judeu praticantae, como evidencia o livro de Atos. De fato, a principal questão no início da comunidade messiânica ("igreja") não era se um judeu poderia crer em Yeshua, mas se um não-judeu poderia se tornar cristão sem se converter ao judaísmo. A expiação vicária do Messias tem sua raíz no sistema sacrificial judaico. A ceia do Senhor originas-se da Páscoa judaica. A imersão ("batismo") é uma prática judaica. Yeshua disse: "A salvação vem dos judeus". A própria Nova Aliança foi prometida pelo profeta judeu Jeremias. O próprio conceito do Messias é exclusivamente judaico. A bem da verdade, o Novo Testamento completa o Tanakh, as Escrituras hebraicas outorgadas por Deus ao povo judeu; de forma que o Novo Testamento sem o Antigo é tão impossível quanto o segundo pavimento de uma casa sem o primeiro, e o Antigo sem o Novo é como uma casa sem teto. Além do mais, muito do que está escrito no Novo Testamento é incompreensível à parte do contexto judaico. Eis aqui um exemplo, extraído de muitos outros.Yeshua disse leteralmente no Sermão do Monte: "Se o seu olho for mau, todo o seu corpo estará em trevas". O que é um "olho mau"? Alguém que desconheça o pano de fundo judaico poderia supor que Yeshua estivesse falando sobre algum tipo de encantamento. Todavia, em hebraico, possuir um ‘ayin ra’ah, "olho mau", significa ser sovina; ao passo que ter um ‘ayin tovah, "olho bom", equivale a ser generoso. Yeshua está simplesmente incentivando a generosidade e desestimulando a avareza. Esse entendimento combina muito bem com os versículos do contexto: "Onde estiver seu tesouro, aí também estará seu coração [...] você não pode ser escravo de Deus e do dinheiro". Contudo, a melhor demonstração do caráter judaico do Novo Testamento é também a prova mais convincente de sua veracidade, ou seja, o número de profecias do Tanakh – todas muitos séculos mais velhas que os acontecimentos de Natzeret. A probalibidade de que qualquer pessoa pudesse se encaixar em dezenas de condições proféticas por mero acaso é infinitesimal. Nenhum candidato farsante ao messiado, como Shim’on Bar-Kokhva ou Shabatai Tzvi, cumpriu mais do que umas poucas. Yeshua cumpriu as profecias referentes à sua primeira vinda; a seção 7 mais adiante alista 52. As restantes serão cumpridas quando ele retornar em glória. Dessa forma, o Novo Testamento Judaico considera normal pensar no Novo Testamento como algo judeu. Há trés áreas adicionais nas quais o Novo Testamento Judaico pode ajudar em relação a tkkun-ha’olam ("conserto do mundo"): o anti-semitismo cristão, a recusa judaica de receber o evangelho e a separação entre a igreja e o povo judeu.


David H. Stern, O Novo Testamento Judaico, São Paulo, Editora Vida, 2007.

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